11/05/2023 - 10h22
A verdade nua e crua da felicidade corporativa
Muitos veem a palavra felicidade como pouco pragmática, afirma a executiva de RH Alexandra D’Azevedo Nunes
Por Alexandra D’Azevedo Nunes*
O próprio uso do nome felicidade corporativa afasta significativa parte das pessoas a ler as palavras seguintes do tema, ainda que o assunto afete produtividade e bem-estar de cada um e de seus times. Isso acontece porque boa parcela dos perfis mais racionais e objetivos, que é uma quantidade importante das pessoas, entende palavras como felicidade como pouco pragmáticas e difíceis de tangibilizar; portanto, pouco produtivas.
Não precisaríamos falar apenas de contextos organizacionais, basta estarmos em uma roda familiar ou de amigos para percebermos o mesmo fenômeno: temas subjetivos afastam uma parte importante dos receptores das mensagens.
Talvez esse seja um dos motivos para que tantos subvalorizem o quanto felicidade pode ser tema de produtividade, bem-estar e, oportunamente, útil e bastante impactante para a performance.
Há pelo menos dois ângulos sobre felicidade corporativa. Como lentes de óculos, o tema Felicidade pode ser visto nesse contexto com lentes cor-de-rosa, provocando otimismos fantasiosos, irracionais e afastar parte dos perfis. Por outro lado, o tema pode ser enxergado através de uma visão de realidade positiva, perspectiva diferente cujo conceito foi apontado por Shawn Achor, autor de Por Trás da Felicidade.
O primeiro tipo de lente é fruto de desejos fantasiosos ou enviesados, e acaba por não comprovar credibilidade, fazendo com que tradicionalmente temas como esse sejam vistos dentro do paradigma que se tornou comum: "abraçador de árvore", subjetivo, pouco sério.
O segundo tipo, de realidade positiva traz uma nova perspectiva e pode agregar mais pessoas a essa conversa. Enxergar através das lentes de realidade positiva altera não apenas a lente dos óculos, mas nossa produção hormonal e índices de confiança, assim como traz energia para fazer o que precisa ser feito.
Enxergar através da realidade positiva pode ser pragmático, útil e racional. E como ela funciona na prática?
A realidade positiva consiste em um mecanismo mental no qual o próprio indivíduo mapeia as possibilidades com a intenção e esforço de enxergar o todo. Logo em seguida, tendo essa visão, a própria pessoa elenca dentre as possibilidades de cenário a mais aderente ao seu objetivo. Dessa forma, realidade positiva trata de enxergar o que é viável (realidade) em linha com o objetivo (positiva).
Percebam que positivo aqui perde o contexto de cor-de-rosa para ganhar o sentido do que se quer, e isso altera completamente o desfecho do paradigma: de "abraçador de árvore" para "quem atinge seu objetivo".
Selecionar o mindset de realidade positiva passa pela dinâmica de, dentre a análise de cenários, aplicar-se a descobrir o que é mais positivo de acordo com seu objetivo e, a partir disso, se perceber como alguém que tem poder de ação sobre a decisão, além das ferramentas para alcançá-lo. É se enxergar como um agente com poder de ação sobre os fatos.
Ao final, chegar no resultado e seus aprendizados são o que determina a possibilidade de se dar mais passos, e escolher rotas de forma intencional.
Não é sorte, times de alta performance existem e obtêm êxito por serem formados por pessoas competentes, engajadas, cujos propósitos são claros e que conseguem mapear cenários, conseguindo definir o que é mais útil e ir para a ação com consistência e confiança para transformá-las em realidade.
Pegue como exemplo uma determinada meta de vendas. Dois executivos, mapeando separadamente os cenários de como poderiam chegar nessa meta poderiam perceber possibilidades diferentes e, com isso, chegar ou não a seus objetivos pelo traçado que fizessem. Talvez algum deles inclusive visse a meta como inalcançável e desistisse, focando em explicações ao invés de soluções.
Em seu livro, Achor traz dois colegas em um mesmo local precisando chegar a um cume de montanha para serem resgatados. Um dos colegas, dado o cansaço, enxerga a montanha como maior e está prestes a desistir. Já a colega mapeia uma metragem e esforço que acredita que conseguirá, e não apenas consegue como puxa o colega. Eles são resgatados.
Felicidade depende, assim, do quanto acreditamos ser capazes de mapear e selecionar a melhor opção de cenário dependendo do objetivo traçado e do quanto vemos que temos poder de agir de fato. Entender que nossas atitudes fazem a diferença para chegar ao outro lado da jornada nos empodera a olharmos para nossas ações de forma mais estratégica e sermos agentes construtores da nossa felicidade, não apenas no trabalho, mas também nele.
*Alexandra é Diretora de Pessoas & Gente da Peers Consulting & Technology
Foto: Divulgação/Peers Consulting