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14/08/2023 - 10h33

Pra você não me esquecer… (rótulos são para produtos)

Na coluna de Marcelo Madarász, a diferença do acolhimento na vida das pessoas

 

 

Por Marcelo Madarász*

 

 

Há uma linda canção brasileira que começa com a expressão título desta reflexão e diz que o brilhante, a prata e o ouro são oferendas fugidias, mas que a joia que a pessoa ofertaria não se corrói e nem o tempo destrói. Da mesma forma que essa canção traz muitas sutilezas, a história que quero compartilhar com vocês também está cheia delas. Peço que abram seu coração e leiam com ele, enxerguem além do óbvio para evitar que aconteça com vocês o que tem acontecido com muitos líderes que, infelizmente, são profundos como o pires e ficam cegos para os tesouros que, muitas vezes, a vida lhe apresenta, mas que eles não percebem.

 

Em tempos beligerantes como o atual, e em um cenário cada vez mais desafiador no qual do líder muito é exigido, há de ser necessário encontrar alguma luz, alguma poesia, algo que te permita conectar-se ainda mais ao seu propósito e que te dê forças na caminhada.

 

Ricardo é um moço negro da Bahia que veio para São Paulo com 22 anos de idade para trabalhar em uma empresa fundada, nos Estados Unidos, por um branco americano e trazida ao Brasil por um francês branco. Ao chegar de Salvador, é acolhido por João Lúcio, um mineiro branco. Vocês percebem o quanto esse simples parágrafo nos incomoda com o excesso de rótulos que na verdade tornam-se desnecessários?

 

Com todo o respeito do mundo ao tema da Diversidade e Inclusão, e com a clareza de que me empenharei hoje e sempre para contribuir com a construção de um mundo melhor, justo, com igualdade de oportunidades, gostaria de chamar a atenção para o fato de que alguns elementos podem sequestrar a nossa atenção e energia daquilo que é mais importante.

 

Precisamos incessantemente buscar o saudável caminho do meio e nos mantermos muito fiéis à nossa essência e aos nossos valores e não nos deixarmos seduzir por modismos baratos que passarão.

 

O sonho de Martin Luther King, lindamente descrito em seu discurso, não é modismo – fala de algo inerente ao ser humano e que nos exige atenção sobre a forma como conduzimos os temas importantes. Muito além de modismos, devemos ampliar a consciência, abrirmos o coração e valorizar ao máximo a dimensão humana de tudo o que nos diz respeito, independentemente de sermos negros, brancos, amarelos, indígenas, homens ou mulheres, gays ou heteros, de qualquer religião, de qualquer origem, com ou sem alguma deficiência.

 

Que tal nos enxergarmos e nos respeitarmos simplesmente como Seres Humanos?

 

Com esse quase desabafo, volto à linda história ouvida recentemente, em um programa que temos em nossa empresa. Como há um desejo grande dos colaboradores de discutir sobre carreira, críamos esse programa e convidamos João Lúcio, que tem mais de 30 anos de empresa, para compartilhar sua trajetória pessoal e profissional e qualquer colaborador pode participar ao vivo ou assistir posteriormente. Ao término de sua emocionante apresentação, vários depoimentos surgiram e um deles foi do Ricardo. Ele fez um verdadeiro agradecimento ao João, compartilhando como foi acolhido, quando chegou à São Paulo com 22 anos de idade, numa fábrica enorme, provavelmente cheio de medos, e como foi recebido pelo João, que foi tão acolhedor que parecia um pai recebendo o seu filho com todo o carinho.

 

Dezessete anos depois, ambos na mesma empresa, Ricardo tem a oportunidade de expressar sua gratidão e de forma muito emocionada, fazê-lo com muitas testemunhas, que também se emocionaram e compartilharam suas histórias e motivos de agradecimento. Foi um momento muito especial, que nos faz pensar na responsabilidade do líder – ou, mesmo que não seja líder, mas esteja em convivência com outras pessoas – em como recebemos as pessoas, como a acolhemos, como percebemos que ela está com alguma necessidade e o quanto nos disponibilizamos para pavimentar a estrada para essa pessoa.

 

Nossas palavras, atitudes e ações são poderosas e reverberam por muito tempo. Cabe a nós escolher se vamos nos conectar com a luz ou com a sombra, se vamos abraçar e ajudar ou se vamos criticar e refutar.

 

Entre outros elementos, há de se de ter em mente a lei da ação e da reação. Tudo o que se faz traz consequências e, ao iluminarmos os caminhos de alguém, a luz continuará brilhando de uma maneira mágica, que, acredite, muda a história do outro e, certamente, a nossa!

 


*Marcelo Madarász é diretor de RH para América Latina da Parker Hannifin

 

 

 

 

Foto: Marcos Suguio