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01/07/2024 - 10h22

O RH como catalisador de apoio em situações de crise

Regina Durante fala da atuação do RH da Lojas Renner frente às enchentes no Rio Grande do Sul

 

Por Regina Frederico Durante*

 

 

Diante da tragédia provocada pelas enchentes sem precedentes que devastaram a maior parte das cidades do Rio Grande do Sul em maio e junho deste ano, as áreas de RH defrontaram-se com um novo desafio: o de assumir um papel crucial de mobilização e de suporte aos colaboradores das empresas. E não importa se eles foram ou não vítimas diretas da catástrofe climática, pois mesmo aqueles que não tiveram familiares, casas e bens levados pela água sofreram impactos emocionais avassaladores ao testemunhar o sofrimento enfrentado por suas comunidades e, em muitos casos, por seus amigos e colegas de trabalho.

 

Num momento como este, o RH se transforma em um catalisador de apoios. Ele deve agir com rapidez, capacidade e potência suficientes para antecipar movimentos que garantam segurança e tranquilidade às pessoas atingidas e criem condições para que as demais, se assim o desejarem, se engajem em jornadas de solidariedade.

 

De maneira geral, o RH deve ser o pilar de serenidade para a companhia reafirmar seus valores, apoiar toda a base de colaboradores, superar a crise e preservar o próprio negócio. Além disso, a área deve ser a grande parceira das lideranças e do CEO, pois no meio do caos é compreensível que qualquer um, por mais preparado que esteja, enfrente situações de extremo estresse e dúvidas sobre qual o caminho mais correto a seguir.

 

Importante destacar que essa relação de proximidade não é construída de uma hora para outra. O RH precisa ser desde sempre um elo de confiança que está ao lado dos colaboradores, e não acima deles. Ao mesmo tempo, tem que conhecer profundamente o negócio para identificar onde estão os riscos e como as pessoas serão afetadas nos momentos desafiadores, pois são elas que se relacionam com clientes, fornecedores e toda a comunidade. É um efeito cascata.

 

Na Lojas Renner S.A., as ações de RH são responsabilidade da Diretoria de Gente e Sustentabilidade (G&S). Entendemos que essas duas disciplinas estão conectadas e devem caminhar juntas. A sustentabilidade é o valor que nos inspira e nos move para encantar pessoas. Mais do que isso, é uma parte essencial da estratégia da nossa organização. Estimulamos que todos compreendam a relevância das melhores práticas ESG (ambientais, sociais e de governança) e seu papel para combater as mudanças climáticas e preservar o futuro de todos. Por isso, ela faz parte do mindset dos profissionais de RH.

 

Nesse caso concreto, enquanto pilar de serenidade da companhia, a diretoria de G&S ajudou a construir o passo a passo da gestão da crise provocada pelas enchentes no estado onde a Renner nasceu e mantém sua sede e de onde cresceu para todo o Brasil, o Uruguai e a Argentina.

 

Graças ao acompanhamento diário da situação com as principais lideranças, permanecemos em contato direto com nossos cerca de 480 colaboradores que residem nas localidades mais atingidas e foram mais fortemente impactados e apoiando-os de diferentes maneiras. Desde o primeiro momento, iniciamos ações de acolhimento, liberação e flexibilização de trabalho para que priorizassem a atenção às suas famílias e ao seu entorno.

 

Adotamos medidas como suporte psicológico imediato e gratuito e suporte financeiro por meio de antecipação de férias e do 13º salário e da criação de um fundo de auxílio emergencial gerido pela nossa associação de colaboradores para socorrer quem sofreu perdas relevantes. Para quem teve que ir para abrigos, também providenciamos acolhimento para seus pets e oferecemos a opção de ir para hotéis, com os custos cobertos pela empresa.

 

Essa rede de solidariedade incluiu o Instituto Lojas Renner, nosso pilar de ação social, que mobilizou mais de 350 voluntários na companhia, o equivalente a 15% da força de trabalho do nosso quadro administrativo, além de financiar o aluguel de barcos para a realização de mil resgates em localidades inundadas e de distribuir alimentos, água, cobertores, calçados e roupas, inclusive de cama e banho, beneficiando mais de 100 mil vítimas das enchentes.

 

Todo esse trabalho foi resultado de um longo processo de aprendizado que foi intensificado no enfrentamento da covid-19. Na época, com as pessoas sempre no centro das nossas decisões, adotamos iniciativas de segurança e bem-estar para mitigar os riscos à saúde física e emocional dos nossos colaboradores, fechamos temporariamente nossas lojas, adotamos o trabalho remoto nas áreas em que isto era possível, entre outras medidas.

 

No início de 2022, lançamos ainda o que chamamos de Dr. Be, uma plataforma de serviços gratuitos de telemedicina e telepsicologia, incluindo coaching nutricional e esportivo. Nos dois primeiros anos, o Dr. Be já prestou mais de 20 mil atendimentos para nossos talentos de diferentes localidades, inclusive para estagiários e jovens aprendizes.

 

Vale destaca que agora, com o Rio Grande do Sul iniciando a fase de reconstrução, as empresas devem apoiar seus colaboradores a entender este novo momento. Isso contempla todo o processo de voltar para suas casas, a fazer a limpeza, os reparos ou até a reerguer o que foi completamente destruído. Também nessa etapa as pessoas não podem ser abandonadas e, mais uma vez, o RH precisa atuar em parceria com o CEO e as lideranças de todas as áreas para que eles possam encontrar as melhores soluções.

 

Os resultados desse compromisso são compensadores para todos. É emocionante ver como as iniciativas das empresas que respeitam e dão suporte real a seus colaboradores nos momentos de crise refletem em ações de solidariedade também entre eles. Aqui, por exemplo, muitas pessoas voltaram ao trabalho o mais rápido possível para cobrir os colegas que ainda não tinham condições de retomar suas atividades. Outros se dedicaram ao voluntariado ou buscaram outras formas de contribuir. Quem estava em condições de ajudar, encontrou uma forma de fazê-lo.

 

Isso mostra que é possível sair mais forte de uma situação extrema, criando uma agenda positiva a partir do que se aprendeu em uma catástrofe para fortalecer sentimentos como solidariedade, pertencimento e engajamento. É isso que perpetua as empresas e inspira as pessoas a tomarem as melhores decisões em suas vidas, inclusive quanto ao legado que elas pretendem deixar para as futuras gerações em relação à perseverança, à solidariedade com o próximo, à sustentabilidade e à preservação do planeta.

 

 

* Regina Frederico Durante é diretora de Gente e Sustentabilidade da Lojas Renner S.A.

 

 

Foto: Fabiano Panizzi