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20/08/2024 - 12h16

Outro mês aponta na folha do calendário

Em um mundo dinâmico e veloz, o autocuidado é essencial, ensina nosso colunista Marcelo Madarász

 

Por Marcelo Madarász*

 

Estamos praticamente no final do mês de agosto e, em poucas horas, no final do ano. A mesma canção de onde tirei o título deste artigo diz que o tempo faz tudo valer a pena e que nem o erro é desperdício, tudo cresce e o início deixa de ser início e vai chegando ao meio e aí começo a pensar que nada tem fim…

 

Os poetas e os artistas de modo geral conseguem traduzir em algo belo nossas maiores dores e angústias. Tudo acontece em uma velocidade vertiginosa e além do FOMO (Fear of Missing Out, que poderia ser traduzido como medo de perder oportunidades), temos também o FOBO (Fear of Better Opportunities, medo de oportunidades melhores serem desperdiçadas). Se trouxermos esses novos conceitos para nosso complexo mundo organizacional com um recorte no desafiador papel do líder, temos todos os ingredientes para um aumento em nossa ansiedade, na autocobrança, no sentimento de termos que obrigatoriamente nos adaptarmos e conseguirmos nos destacar frente a todas essas intermináveis exigências.

 

Do líder muito é esperado, nós somos nossos maiores algozes nesse aspecto e não é por acaso que o tema da saúde mental e consequentemente da perda dela tem ocupado as agendas das organizações.

 

Muitos relacionam esse quadro ao pós-pandemia, mas não podemos nos esquecer que, mesmo antes da pandemia, já tínhamos claramente os sinais de que há algo de podre no reino da Dinamarca. Os índices de ansiedade, depressão, burnout e outros distúrbios da saúde mental já eram alarmantes e muitos preferiram ignorá-los. Um dia a conta chega.

 

Poderíamos aprofundar a análise, mas não é esse o objetivo. Temos que tomar vários cuidados, dentre eles, o de não cairmos da armadilha do vitimismo e para isso recomendo conhecer o modelo do Triângulo do Drama, no qual a eleição de um dos três papéis mostra a complexa dinâmica das relações: “Este triangulo mapeia um tipo de interação disfuncional que é muito comum no trabalho e, também, na vida pessoal. A palavra “disfuncional” não deve gerar medo – significa apenas “aquilo que não funciona muito bem”. Líderes eficazes percebem quando seus relacionamentos estão sendo contaminados pelo Triângulo do Drama e tomam a decisão de permanecer fora dele.

Esse triângulo é definido por três papéis tóxicos que emergem, de forma previsível, em qualquer drama da vida real: Vítima (papel primário), Perseguidor (quem a Vítima culpa pelo seu sofrimento) e Salvador (que entra em ação para diminuir o sofrimento da Vítima). Note que você pode atuar ou não em cada um dos três papéis a qualquer momento”.

 

Não por acaso, em recente evento conduzido pela Gestão RH, o doutor Jairo Bouer, médico, educador, palestrante e escritor, trouxe reflexões sobre a manutenção da saúde mental para uma plateia muito atenta, formada principalmente por gestores de pessoas, muitos deles profissionais de RH, questionando também sobre quem cuida de quem cuida. Um dos aspectos positivos desses eventos é a troca de experiências e a clareza de que não estamos sozinhos em nossas dores.

 

Com todas essas inquietações, nos últimos dias tivemos a perda de dois ícones do nosso tempo: Silvio Santos, aos 93 anos, no dia 17, e Alain Delon, aos 88, no dia 18. Há relatos desse ícone do cinema mundial que, de tão amargos, nos fazem pensar que todos temos nossas sombras, dores, fantasmas e travessias a serem feitas.

 

A passagem do tempo, as inúmeras e desafiadoras responsabilidades do líder e a complexidades do nosso tempo nos pedem muita atenção: auto-observação, autoconhecimento, reflexão sobre o nosso propósito, conexão com ele, colocar-se a serviço, mapeamento de nossas dinâmicas internas, nossas sombras e luzes, de como interagimos com o outro e o próprio esvaziamento da mente, por exemplo, por meio da meditação, um pouco do silêncio interno e, se possível, externo e a clareza do que funciona para cada um de nós são quase que uma estratégia de sobrevivência.

 

É saudável nos lembrarmos de outra canção que faz parte de nossos referenciais passados, do desenho animado Mogli: somente o necessário, o extraordinário é demais. Para lidarmos com as equações impossíveis (conceito do mestre Oscar Motomura), precisamos percorrer o silêncio e encontrar os nossos caminhos, que não necessariamente sejam os que funcionam para todos e que de preferência estejam no território do saudável caminho do meio!

 

Um pouco de equilíbrio e temperança podem fazer a diferença na manutenção de nossa saúde!

 

*Marcelo Madarász é diretor de RH Latam da Parker Hannifin

 

 

Foto: Marcos Suguio