26/11/2024 - 09h49
Felicidade nas corporações - um equilíbrio possível?
Uma perspectiva humanizada para lideranças e RHs, na visão da nossa colunista Clarissa Medeiros
Por Clarissa Medeiros*
No cenário corporativo atual, muitas vezes nos deparamos com o dilema entre produtividade e bem-estar. A busca pela felicidade, tanto no campo pessoal quanto no profissional, tornou-se um tema central para líderes e organizações que desejam prosperar em um ambiente cada vez mais dinâmico e desafiador no pós-pandemia. No entanto, é crucial compreender que a felicidade não é uma meta a ser alcançada, mas uma jornada contínua de autoconhecimento e busca por humanizar as relações.
Em minha trajetória, inicialmente como executiva, e mais tarde como consultora e empresária, a compreensão de que a felicidade não depende apenas de fatores externos, como remuneração, promoção e reconhecimento público, mas de um alinhamento entre propósito e ação, tem sido um dos pilares para uma jornada mais significativa. Assim, penso que a felicidade no ambiente corporativo está ligada à forma como as pessoas se sentem em relação ao trabalho que realizam, ao ambiente que as cerca e à cultura da empresa.
O IMPACTO DAS EMPRESAS NA FELICIDA DOS COLABORADORES
É indiscutível que empresas desempenham um papel fundamental na construção de uma cultura que favoreça o bem-estar e a satisfação das pessoas. No entanto, é necessário que as organizações compreendam que a felicidade no trabalho não se resume a benefícios materiais ou programas pontuais de descompressão ou integração social.
Além disso, a criação de um ambiente de trabalho positivo e saudável requer um compromisso contínuo com valores como transparência, respeito, segurança psicológica e equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Uma pesquisa da Harvard Business Review revelou que colaboradores satisfeitos são 31% mais produtivos, 85% mais eficientes e 300% mais inovadores. Ao criar um local onde as pessoas se sintam valorizadas, respeitadas e motivadas, as empresas se tornam mais fortalecidas para alcançar seus objetivos de uma forma sustentável, e isso inclui serem aptas para atrair e reter talentos.
A LIDERANÇA E O IMPACTO NO BEM-ESTAR
Como líderes, temos a responsabilidade de guiar e inspirar nossas equipes de maneira que possamos cultivar um ambiente saudável e, ao mesmo tempo, produtivo. Casa vez mais, a liderança não deve ser vista apenas como uma questão de gestão ou de autoridade, mas como uma função que envolve comunicação aberta e a criação de um clima de confiança entre as pessoas. Líderes que se comunicam de forma transparente, ouvem ativamente e promovem um ambiente inclusivo têm maior sucesso em motivar suas equipes e fomentar um ambiente de trabalho mais positivo, e isso traz mais bem-estar à própria liderança.
Além disso, a vulnerabilidade saudável é uma característica importante para as lideranças. Quando compartilham suas experiências, desafios e aprendizados, contribuem para uma cultura organizacional mais humana, onde todos se sentem mais à vontade para se expressar e colaborar de forma genuína. Essa abertura também ajuda a construir relações de confiança, que são essenciais para o bom desempenho e saúde mental de qualquer equipe.
O PROPÓSITO COMO PILAR
A felicidade no ambiente de trabalho está fortemente ligada ao sentido e propósito que as pessoas encontram em suas funções. Quando acreditam que estão contribuindo para algo maior do que elas mesmas, sentem-se mais engajadas e motivadas.
Isso não significa que cada tarefa ou atividade deva ser grandiosa ou idealizada, mas que existe um entendimento coletivo de que cada um tem um papel essencial dentro do contexto maior da organização.
O alinhamento de valores e objetivos entre as pessoas e a empresa também é uma peça-chave para garantir esse sentido. Quando as organizações se comprometem com a criação de um ambiente inclusivo e com iniciativas de responsabilidade social e ambiental, cultivam um sentimento de pertencimento e satisfação. Essa conexão com o propósito é um dos maiores impulsionadores de engajamento e produtividade.
RECURSOS HUMANOS: O AGENTE DE MUDANÇA
No centro de toda essa transformação, o setor de Recursos Humanos tem uma função fundamental. Profissionais de RH não são apenas responsáveis por recrutamento e gestão de pessoas, mas também por construir e fortalecer a cultura organizacional que apoia esta procura incessante para o bem-estar dos colaboradores.
Para que a felicidade seja uma realidade no ambiente de trabalho, os profissionais de RH devem articular a liderança para promoverem, conjuntamente, práticas que valorizem a saúde mental, buscando sempre uma consciência mais humanizada.
Uma estratégia eficaz deve incluir programas de desenvolvimento pessoal e profissional, que ajudem os colaboradores a se sentirem mais preparados e realizados em suas funções, a desenvolverem competências emocionais essenciais para criar um ambiente de autorresponsabilidade e transformação.
A ESCALA 6X1 E O EQUILÍBRIO ENTRE TRABALHO E VIDA PESSOAL
Nas últimas semanas, uma das questões debatidas em parte das organizações é a flexibilização do modelo de jornada de trabalho 6x1 – seis dias de trabalho para um dia de descanso.
Embora esse modelo levante preocupações significativas sobre o tão almejado balanceamento entre a vida profissional e pessoal, considerar o potencial de esgotamento mental e emocional que afeta a vida e a performance profissional não é um “luxo”, mas uma questão estratégica para as empresas, quando constatamos que, em média, 46% dos trabalhadores estão estressados e 25% tristes, segundo a pesquisa State of The Globe Workplace.
É em meio a esse contexto que os profissionais de RH têm um papel vital ao fomentar a reflexão e práticas estruturadas a respeito do impacto que a empresa tem na saúde mental e no engajamento dos colaboradores.
Sendo assim, creio que a felicidade no trabalho não é um privilégio, mas uma responsabilidade compartilhada entre as organizações e seus colaboradores. Empresas que investem em uma cultura positiva, que prioriza a comunicação transparente, o desenvolvimento de liderança e o alinhamento de propósito, têm mais chances de atrair e reter talentos engajados e motivados.
Como líderes, temos a capacidade de transformar o ambiente de trabalho em um espaço no qual o bem-estar e o propósito caminham lado a lado com a produtividade e os resultados organizacionais.
Como? Criando uma cultura de respeito, confiança, de colaboração e de aprendizagem contínua, inclusive aprendizado com os erros. Meu ideal como líder é continuar a construir um ambiente em onde todos e todas sintam-se felizes, realizados e parte de um projeto maior.
A partir dessa visão, me inspira multiplicar essas práticas para mais organizações e compartilhar os caminhos que estão dando certo. Minha motivação é que possamos estarmos todos, cada vez mais, engajados nesta agenda de consciência e humanização na liderança.
E você, o que pensa a respeito desse importante tema? Compartilhe sua opinião!
*Clarissa Medeiros é mentora de lideranças, palestrante, sócia-fundadora da Clarity Global e colunista do portal Gestão RH
Foto: Lucy Hallak