
13/03/2025 - 11h04
A ascensão e extinção dos líderes jurássicos
Como ajudar gestores que devoram o engajamento a evoluírem? Bruno Gonçalves responde
Por Bruno Gonçalves*
Os dinossauros deixaram de existir há milhões de anos, vítimas de um meteoro que os varreu os deste planeta. Desde então, eles habitam nosso imaginário como símbolos do passado. Mas parece que uma espécie sobreviveu ao impacto cósmico e continua a dar seus rugidos autoritários – não nas florestas pré-históricas, mas nos escritórios de empresas por todo o mundo. São os líderes jurássicos, aqueles gestores que parecem ter saído diretamente da era dos dinossauros, com suas garras afiadas de comando centralizado e seu desdém por qualquer coisa que cheire a mudança ou inovação.
Apesar de alguns tentarem roubar para si a criação dessa caricatura corporativa, o conceito já é amplamente discutido em outros lugares do mundo a anos e aqui, no Brasil, começa a ganhar espaço como uma crítica bem-humorada aos métodos ultrapassados de liderança.
Como saber se você convive com um líder assim? Eles não se escondem! São criaturas que adoram centralizar poder, tomar decisões sem consultar ninguém e acreditam que o medo é a melhor ferramenta de motivação. Se você já ouviu frases como “eu sou o chefe aqui, ponto final!” ou “se quer trabalhar em casa, arrume outro emprego”, parabéns: você encontrou um líder jurássico.
Esses gestores são tão antiquados quanto um tiranossauro rex tentando usar um smartphone – e tão eficientes quanto. Aliás, falando em smartphones, o trabalho remoto é um dos maiores campos de batalha para esses dinossauros corporativos. Enquanto os trabalhadores do mundo todo clamam pelo home office como uma forma de aumentar produtividade e bem-estar, os líderes jurássicos rugem contra essa tendência, argumentando que "trabalho só existe dentro do escritório". Spoiler: eles estão errados.
Mas por que esses líderes ainda existem? A resposta está em uma combinação de cultura organizacional ultrapassada e falta de atualização. Muitos deles simplesmente não percebem que o mundo mudou e que as pessoas também.
Segundo um estudo da Universidade de Stanford (2021), liderado pelo pesquisador Jeffrey Pfeffer, equipes lideradas por gestores autoritários têm uma queda média de 15% na produtividade. Aparentemente, o rugido dessa galera só assusta – e não motiva ninguém. Além disso, colaboradores sob lideranças tóxicas têm três vezes mais chances de desenvolver ansiedade ou depressão, de acordo com uma pesquisa da American Psychological Association (APA) realizada em 2022, conduzida por David Ballard. Ou seja, o líder jurássico não só devora o engajamento, mas também a saúde mental da equipe.
E os prejuízos não param por aí. Um relatório da PwC (PricewaterhouseCoopers) publicado em 2023, liderado por Blair Sheppard, apontou que empresas com práticas de liderança inadequadas perdem em média 20% de seus lucros operacionais anuais devido à baixa motivação, alta rotatividade de talentos e menor produtividade das equipes. Em outras palavras, o líder jurássico está literalmente devorando o dinheiro da empresa. Enquanto isso, empresas com líderes modernos e engajados apresentam resultados impressionantes. Uma pesquisa da Gallup (2023), liderada por Jim Harter, revelou que equipes lideradas por gestores engajados têm 21% mais produtividade e 41% menos absenteísmo. Isso significa que bons líderes não só aumentam os resultados, como também reduzem o estresse e a rotatividade de colaboradores.
Diversidade e inclusão também é um tópico muito importante nesse contexto. Outro estudo, dessa vez do BCG (Boston Consulting Group), feito em 2023 e coordenado por Roselinde Torres, mostrou que empresas com maior diversidade de gênero na liderança têm um retorno sobre o investimento (ROI) 35% maior do que as empresas com lideranças homogêneas. Os líderes jurássicos simplesmente não conseguem acompanhar essa evolução. Eles preferem manter o conhecimento trancado em suas cavernas, enquanto líderes modernos promovem a troca de ideias e incentivam a inovação.
Um estudo teórico publicado pela Universidade de Stanford em 2024, conduzido por Jeffrey Pfeffer, concluiu que líderes que promovem a troca de conhecimento podem aumentar os lucros das empresas em até 25% ao longo de cinco anos. Já os líderes jurássicos continuam presos ao passado, incapazes de enxergar o valor da colaboração. São tantos dados que eu acho que você deveria anotar.
Deixa eu te mostrar mais dado para não perder o costume: uma pesquisa feita McKinsey & Company (2023), liderado por Bill Schaninger, revelou que empresas com políticas flexíveis de trabalho remoto apresentam um crescimento anual 15% superior em termos de receita líquida, comparado às empresas com lideranças ineficazes ou antiquadas. Parece que os líderes jurássicos ainda não entenderam que o futuro do trabalho não está preso a quatro paredes.
Então, como podemos ajudar esses dinossauros a evoluir?
Primeiro, eles precisam praticar a escuta ativa. Feedbacks construtivos e diálogos abertos são a chave para engajar sua equipe. Segundo eles devem promover diversidade e inclusão, incentivando diferentes perspectivas e valorizando as contribuições de todos. Terceiro, precisam aceitar o home office e experimentar seus benefícios. Flexibilidade é a palavra-chave para fidelizar talentos e aumentar a produtividade. Por fim, devem investir em desenvolvimento contínuo, participando de treinamentos e lendo sobre liderança moderna. O mundo está mudando rápido, e eles precisam acompanhar. Mas pode relaxar que provavelmente ele não vai querer saber de nada disso que estamos falando. Respire fundo e aguarde o meteoro.
Assim como os dinossauros reais, os líderes jurássicos precisam deixar de nos perturbar todos os dias para dar lugar a uma nova era de liderança. Não estamos mais nos tempos jurássicos, e os funcionários de hoje exigem líderes que sejam humanos, empáticos e visionários.
Se você é um líder ou conhece alguém que ainda está preso neste tempo, está na hora de dar um passo à frente – antes que o meteoro da transformação caia e extinga de vez esses dinossauros corporativos. Lembre-se: a liderança moderna não é sobre rugir alto, mas sobre inspirar, motivar e criar um ambiente onde todos possam prosperar. E isso, meus amigos, é o verdadeiro segredo para evitar a extinção.
*Bruno Gonçalves é especialista em experiência do cliente e do colaborador e foi reconhecido pelo LinkedIn como Top Voice em RH 2024
Foto: Andre luiz Magalhães