30/11/2022 - 12h02
A resiliência tem sido mal interpretada no mundo corporativo
Para se mostrarem resilientes, profissionais assumem mais responsabilidades do que podem entregar
A capacidade de ser resiliente é uma das mais valorizadas no mundo corporativo. Afinal, conseguir se recuperar rapidamente em situações adversas é essencial em um ambiente onde é preciso lidar de forma constante com a complexidade e imprevisibilidade. Contudo, a resiliência precisa estar ancorada na realidade, sob pena do profissional se acostumar com cargas excessivas de trabalho, o que mais à frente pode somatizar estresse e o desenvolvimento de distúrbios emocionais como a síndrome do esgotamento profissional (burnout).
A consultora organizacional Caroline Marcon, coach executiva e autora do livro O Poder dos Times AAA, lembra que a resiliência não é resposta para tudo. “É uma capacidade importante, mas que prevê uma real recuperação do indivíduo submetido à pressão – e parece que as pessoas estão esquecendo dessa parte”. De acordo com ela, um dos sinais de que a resiliência passou dos limites é quando não se consegue mais ter discernimento para saber se as metas são realmente alcançáveis ou não.
Nesse sentido, Caroline faz algumas recomendações para o profissional aprender a escolher suas “batalhas”, distinguindo resiliência de teimosia, para tomar decisões acertadas. Assim, quanto estiver pressionado, com mais tarefas do que consegue aguentar, Caroline sugere que antes de aceitar o que vier pela frente, o profissional pergunte a si próprio:
1 – Sendo completamente honesto, eu acredito que tenho o que é necessário para sair vitorioso dessa situação?
2- De que terei que abrir mão para conseguir entregar essa demanda?
3 – Qual é o impacto dessa escolha para mim e para todos os envolvidos?
Se as cargas profissionais que a pessoa estiver assumindo começarem a afastá-la do que tem muito valor para ela própria (amigos, família, filhos, relacionamentos amorosos.), desgastando sua saúde e vida pessoal, a consultora sugere uma reflexão a respeito da necessidade de ser tão tolerante a desafios. “Se o seu tempo e energia não estiverem focados nos seus objetivos de vida, repense com mais consciência”, diz.
Para ela, o que leva as pessoas a cumprirem tarefas excessivas no piloto automático é o sentimento de querer provar para os outros e para si mesmas que tem capacidade de realizá-las. “É uma mistura de medos: de ficar para trás, de desagradar os outros, etc. Tudo isso comandado por um ego inseguro, que faz com que as pessoas não tenham clareza do que realmente importam para elas”, explica.
Assim, mais uma vez, Caroline recomenda ao profissional reflexão: nesse momento, é preciso ter coragem para parar e dizer não, praticando a autogestão e sabendo estabelecer limites.
Dirigindo-se a quem “torce o nariz” para a autocompaixão, ela afirma que praticá-la não é se fazer de coitado, nem ser negligente com sua performance, mas tratar-se com gentiliza e compreensão, sabendo que é preciso respeitar as próprias limitações, sem perder o foco no que realmente importa.
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