Em um dia a dia cada vez mais conectado, um estudo canadense trouxe um insight surpreendente: ficar duas semanas com a internet do celular desligada pode fazer uma grande diferença no desempenho emocional. A pesquisa, realizada com mais de 400 adultos das Américas, com idade média de 32 anos, revelou que essa breve pausa digital pode aprimorar significativamente a atenção sustentada, habilidade fundamental para manter o foco em tarefas ao longo do tempo, a níveis comparáveis aos de pessoas 10 anos mais jovens.

 

Essa descoberta ganha ainda mais peso quando colocada no contexto atual da saúde mental no Brasil. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o país lidera o ranking global de casos de ansiedade: mais de 18 milhões de brasileiros convivem com o transtorno, o que representa cerca de 9,3% da população. E o celular, com seu fluxo constante de notificações, comparações nas redes sociais e excesso de informações, é um dos grandes vilões por trás desse cenário, alimentando distrações e aumentando os níveis de estresse e ansiedade.

 

Para o mercado de trabalho, essa descoberta tem implicações diretas. Em um ambiente onde a produtividade é cada vez mais afetada por distrações digitais, o simples ato de desconectar pode ser uma estratégia poderosa para resgatar o foco, reduzir o estresse e aumentar a eficiência no dia a dia corporativo.

 

"Estamos constantemente fragmentando nossa atenção entre mensagens, redes sociais e notificações. Isso não só compromete o rendimento no trabalho, como também desgasta nossa saúde mental. Reduzir esse estímulo contínuo pode trazer um alívio imediato para o cérebro e promover uma reconexão com o que realmente importa", afirma Luciane Rabello, psicóloga, especialista em Recursos Humanos e CEO da TalentSphere.

 

A atenção sustentada é essencial para diversas atividades profissionais, como tomada de decisão, resolução de problemas e comunicação eficaz. Em tempos de alta demanda por resultados rápidos, é comum ver profissionais se sentindo sobrecarregados, ansiosos e com dificuldades para se concentrar por longos períodos.

 

Luciane sugere que as empresas comecem a repensar sua relação com a tecnologia: "Incentivar momentos offline, como reuniões sem celular, pausas conscientes e até semanas temáticas de desintoxicação digital, pode transformar a cultura organizacional e melhorar os resultados. A performance não está apenas ligada ao tempo conectado, mas à qualidade da atenção que conseguimos dedicar às tarefas".

 

A pesquisa reafirma um ponto já debatido entre especialistas em saúde mental e produtividade: estar conectado o tempo todo não é sinônimo de estar disponível ou eficiente.

 

Ao contrário, a pausa pode ser a chave para um retorno mais centrado, criativo e produtivo. Com o avanço da discussão sobre saúde mental no trabalho, iniciativas que estimulem a consciência sobre o uso da tecnologia ganham relevância. O estudo canadense oferece dados concretos que reforçam a importância de um equilíbrio saudável entre conectividade e presença real, algo que, ao que tudo indica, pode começar com o simples gesto de desligar a internet do celular.

 

 

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