Notícia

Diversidade & Inclusão

18/11/2024 - 17h26

20/11 - Dia da Consciência Negra faz relembrar os avanços necessários nas empresas

Além de ser minoria no alto escalão, pessoas negras têm salários inferiores, aponta Ethos

 

 

É fato: a representatividade da população negra no Brasil ainda não é uma realidade no mercado de trabalho, em especial nos cargos de liderança. A disparidade foi confirmada em um levantamento realizado pelo Instituto Ethos, em setembro, com as 1.100 maiores empresas do Brasil. Segundo o estudo, embora 64,2% das ações das empresas sejam voltadas a programas de inclusão e de contratação de pessoas pretas e pardas, ainda há uma escassez de ações para promover a ascensão profissional desse grupo de forma a alcançar os espaços de tomada de decisão. 

 

Os dados exemplificam isso: atualmente, os cargos mais altos, como conselho de administração e diretoria, têm apenas 5,9% e 13,8% de pessoas negras, respectivamente. Já nos cargos de entrada, como trainees e estagiários, esse percentual sobe para 70,8% e 60,8%, respectivamente.

 

As desigualdades também são encontradas quando analisados os salários médios das populações brancas e negras. As mulheres não negras com ensino superior ganham, em média, R$ 5.303 mensais, enquanto as negras com ensino superior ganham R$ 3.271. A disparidade se torna ainda mais evidente quando se verifica a remuneração média mensal dos homens: os não negros ganham R$ 8.173 e os negros recebem R$ 5.755.

 

LÍDERES MAIS CONSCIENTES

Apesar da diferença considerável nas posições hierárquicas ocupadas por pessoas negras e das questões salariais, o estudo traz uma boa notícia: houve um ganho de consciência das principais lideranças empresariais sobre o cenário social no país, indicando que consideram a presença da população negra abaixo do que deveria nos quadros da empresa que dirigem. A ausência de pessoas negras é uma das mais observadas pelos principais executivos e executivas das empresas participantes em diferentes níveis hierárquicos.

 

Esse “ganho de consciência” aumenta quanto mais alto for o nível hierárquico. Destaca-se a percepção dessas lideranças sobre a proporção de pessoas negras “abaixo do que deveria” no Conselho de Administração (86,9%), no Quadro Executivo (86%) e no Quadro de Gerência (79,8%).

 

Mas é preciso passar da conscientização para a prática. Como exemplo, apenas 21,1% das empresas que participaram do estudo desenvolvem alguma política ou ação afirmativa para garantir a representatividade de pessoas negras no nível executivo ou de diretoria, o que contribui para entender o cenário de afunilamento hierárquico predominante.

 

Um agravante desse cenário é identificado quando há alguma interseccionalidade, ou seja, quando a pessoa pertence a mais de um grupo de diversidade, como mulheres, juventudes, pessoas LGBTI+, indígenas ou pessoas com deficiência negras. Nesse caso, as diferenças são ainda maiores, assim como as dificuldades de ascender na carreira.

 

“Infelizmente, existe um ‘teto’ para a população negra nas empresas. Um dos principais motivos para isso é que as práticas empresariais desenvolvidas para a promoção da equidade racial são, em sua maioria, ações pontuais, principalmente quando se trata de posições de liderança. Ou seja, a pauta racial ainda precisa ser entendida como um compromisso empresarial a ser adotado de forma estratégica, com ações estabelecidas com intencionalidade e com metas e métricas de acompanhamento”, diz Caio Magri, presidente do Instituto Ethos.

 

 

Foto: Shutterstock