Depois de se formar em Educação Física, Carolina Ignarra encontrou seu lugar no mercado como instrutora de ginástica laboral para empresas. Mas em 2001, um ano após a graduação, ela sofreu um acidente de moto que provocou uma mudança completa em seus planos pessoais e profissionais. Carolina teve uma lesão na medula e, aos 22 anos, tornou-se cadeirante.
Após o período de recuperação, a jovem ainda levou meses até se adaptar à cadeira de rodas. Nessa época, ela chegou a pensar que teria de trabalhar somente de casa e que precisaria mudar de área, mas a empresa em que trabalhava a chamou de volta. Ela passou a criar exercícios para serem aplicadas por outros professores, mas dois anos após o acidente, conseguiu voltar a dar aulas mesmo na cadeira de rodas.
A experiência de Carolina a fez perceber a dificuldade que as empresas enfrentam para absorver funcionários com deficiência. É algo que dificulta o cumprimento da Lei de Cotas, que obriga organizações com mais de 100 funcionários a destinarem um percentual de vagas para este público. No Brasil, 24% da população tem alguma deficiência. E desse total, 11 milhões de pessoas são aptas para o trabalho, de acordo com dados do IBGE. Para resolver um problema desse mercado, Carolina teve a ideia de criar uma consultoria de inclusão corporativa.
“O trabalho cria condições para que as pessoas possam viver em situação de igualdade de forma mais verdadeira”
Para colocar sua ideia em prática, Carolina pediu ajuda a seus antigos gestores. Com esse apoio técnico, passou a desenvolver programas e treinamentos para facilitar a conexão entre os profissionais com deficiências e quem precisava contratá-los. Foram os primeiros passos para abrir, em 2008, a Talento Incluir, consultoria voltada para multinacionais, bancos e outras organizações que, por serem de grande porte, precisam estar ainda mais preparadas para obedecer a Lei de Cotas.
A empreendedora conta que formar uma equipe com a atitude necessária para investir em um nicho de mercado tão novo e específico foi seu maior desafio no começo. A empresa hoje tem 12 funcionários e desde sua criação, já auxiliou a inclusão de cerca de mil profissionais com deficiência no mercado de trabalho. Carolina também estima que já ofereceu treinamento a mais de 55 mil pessoas para acomodar esses colegas de forma adequada em suas equipes.
Disciplinada e presente
A deficiência de Carolina não interrompeu sua carreira profissional e também não limitou suas realizações pessoais. Criou outros desafios e oportunidades para que ela contribuísse para mudar a perspectiva de outras pessoas com deficiência. A experiência de viver como cadeirante e desenvolver uma carreira empreendedora renderam a possibilidade de palestrar em importantes fóruns e congressos voltados para o segmento de RH e treinamento. Ela também é autora de dois livros: “INCLUSÃO – Conceitos, histórias e talentos das pessoas com deficiência” e “Maria de Rodas – delícias e desafios na maternidade de mulheres cadeirantes”, escrito depois de se tornar mãe.
Assim como muitas empreendedoras, Carolina precisa lidar com a falta que sente da família nas viagens que fazem parte de sua rotina. Por isso, ela sempre diz à filha que as duas devem ser fortes. E reforça o quanto o trabalho é importante para ela: “Se tem uma coisa que aprendi é: trabalhe por você. O trabalho me ajudou a me posicionar na sociedade depois do acidente e sem ele eu não seria a mulher que sou hoje”.