03/05/2022 - 15h17
Que o Feliz dia das Mães não seja apenas um cartão à funcionária
Professora da Strong afirma que os gestores precisam dar o exemplo
"Grávida, de novo? Não acredito que vou segurar mais esse abacaxi!", bradou meu gestor quando foi informado da gravidez de uma colega de trabalho. Completamente perplexa com o comentário, não aguentei e perguntei: ‘o senhor nasceu da chocadeira, por acaso?’" O evento é real e foi descrito por Dione Fagundes, pesquisadora e professora de Administração da Strong Business School – faculdade de negócios, conveniada e certificada pela FGV –, e a pessoa que desafiou o gestor.
Para ela, o fato mostra o quanto ainda é preciso caminhar na direção do respeito à mulher profissional em sua plenitude, no mundo corporativo. “O preconceito e o estigma observados no dia a dia do trabalho exigem da mulher uma excelência sem fim. Ainda que a exigência seja cobrada de ambos os gêneros, a régua para a mulher é sempre mais alta. É como se ela tivesse que provar que é competente ‘apesar de ser mulher’", afirma Dione.
O fato é que a mulher tem se preparado melhor para o enfrentamento da competitividade no universo do trabalho e faz isso, principalmente, através do estudo. Dados da PNAD Contínua do IBGE comprovam que a mulher estuda mais, trabalha mais e ganha menos do que o homem. "Isso ratifica a envergadura do desafio a ser superado ", enfatiza a professora que também é especialista em mercado de trabalho.
Entretanto, uma alternativa tem se mostrado promissora ao desafio da ascensão profissional não em detrimento da maternidade. É o caso do home office, na medida em que permite à mulher equilibrar (ainda que parcialmente) os dois papeis.
Longe de ser o mundo ideal, porque trabalhar em casa tem "dores", além de "delícias", essa alternativa proporciona à mulher acompanhar mais de perto o desenvolvimento dos filhos. O preço continua alto, pois a pandemia provou, entre outras coisas, que trabalhar em casa não significa trabalhar menos. Além de terem sido mais demitidas que os homens, o salário das teve um reajuste inferior aos homens que desempenham o mesmo papel , segundo estudos do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).
Para a professora, governos e empresas ainda têm que dar suporte como escolas e creches em horários que as mães estejam no trabalho, pois não dá para cobrar que uma mulher trabalhe com 100% de envolvimento sabendo que seu filho está vulnerável.
Um relatório da OIT (Organização Internacional do Trabalho) indica práticas para a primeira infância que colocam empresas, mulheres e homens na participação desse cuidado como horário flexível para pais e mães, criação de creches nas empresas ou convênios com creches particulares e incentivos para que os pais desempenhem papel mais ativo na educação de seus filhos, uma vez que, na comparação com os homens, as mulheres globalmente passam três vezes mais horas prestando cuidados não remunerados.
“Por melhor remuneração que uma empresa possa oferecer, sem um bom ambiente de trabalho, o funcionário apenas tolera a rotina. Acabar com o preconceito de gênero nas empresas é missão dos gestores que todos os dias devem estar atentos, principalmente consigo mesmo. As empresas, de uma vez por todas, devem acabar com a cultura do preconceito e reconhecer que as mães são trabalhadoras produtivas. E daí sim: Feliz Dia das Mães!”, assinala a professora da Strong.
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