07/08/2024 - 10h40
Pesquisas mostram expectativa e realidade sobre licença-paternidade estendida
Um dos estudos aponta que apenas 11% dos pais preferem os cinco dias previstos na Constituição
Mais de 82% dos pais desejam uma licença-paternidade estendida, sendo que 34% gostariam de ter um prazo superior a 21 dias; 26%, superior a 120 dias ou mais – o que seria igualitário para todas as figuras parentais – e 22%, de 6 a 22 dias. Somente 11% concordam com os cinco dias atuais previstos na Constituição.
Os dados são da pesquisa Radar da Parentalidade, realizada pela consultoria Filhos no Currículo e pelo Talenses Group, em parceria com o Movimento Mulher 360. O estudo buscou mapear a maturidade parental das empresas pela visão de 803 colaboradores dessas organizações, todas figuras parentais ou a espera de filhos. O levantamento aconteceu em julho.
Entre os homens, 69% entendem a licença-paternidade estendida como um fator relevante na decisão de um futuro pai por permanecer ou trocar de emprego. Para 91% deles e 95% das mães entrevistadas, o benefício estendido ajuda o pai a assumir um papel mais protagonista na criação dos filhos, além de colaborar para um equilíbrio entre os gêneros para as atividades familiares.
Entretanto, outra pesquisa, essa sobre a licença-paternidade de 20 dias (prevista na Lei nº 13.257/2016, que instituiu o Programa Empresa Cidadã) mostra que a prática nas organizações é bem diferente. A VR fez o levantamento junto à sua base de 28 mil empresas-clientes, entre janeiro e julho, quando foram registradas mais de 11.600 solicitações de licenças paternidade e maternidade. Entre os pais, 79% tiraram licença de cinco dias e apenas 9%, entre 8 e 30 dias de afastamento, ou seja, quando são somados ao período os finais de semana, férias ou folgas. Já na licença-maternidade, 92% das mães tiveram os 120 dias assegurados, apenas 1% acima de 180 dias e o restante em outros intervalos combinados.
NOVAS HABILIDADES
A pesquisa Radar da Parentalidade também perguntou aos entrevistados sobre novas habilidades que eles acreditam ter desenvolvido com a chegada da paternidade e da maternidade e na criação de seus filhos, que os influenciam como profissionais. Paciência, empatia e resiliência foram apontadas como as principais. Destaque para o crescimento da habilidade de liderança em relação a levantamentos anteriores, indicando maior consciência dos entrevistados quanto à relevância da parentalidade como potência em suas carreiras. Somente 1% não acredita ter desenvolvido alguma habilidade no exercício parental que agregue a seus currículos.
Apesar disso, 48% dos entrevistados disseram que somente “às vezes, raramente ou nunca” tiveram acesso a treinamentos ou materiais relacionados à área em suas organizações, revelando a necessidade de instrumentalização da área de Recursos Humanos com conteúdos sobre a temática. Já 30% afirmaram que “às vezes, raramente ou nunca” os processos de avaliação e remuneração dos pais e mães são realizados de forma a garantir igualdade de direitos e tratamento justo na empresa, revelando também a necessidade de revisão nos sistemas de reconhecimento, cargos e salários com mais isonomia, sobretudo à luz da lei de equiparação salarial, que exigiu das empresas, entre março e junho de 2024, a elaboração de um Plano de Ação para Mitigação da Desigualdade Salarial e de Critérios Remuneratórios entre Mulheres e Homens.
Para Vinícius Bretz, especialista em parentalidade da Filhos no Currículo, os dados revelam um avanço na percepção dos colaboradores em relação aos seus direitos e à necessidade de isonomia nas políticas parentais dentro das organizações nas quais trabalham. No entanto, esses resultados devem ser uma provocação construtiva para que essas organizações promovam uma paternidade protagonista em suas atitudes e processos.
“Lidamos diariamente com empresas que apresentam diferentes níveis de maturidade parental. Algumas já possuem práticas avançadas, liderança engajada e uma cultura favorável à pauta, facilitando a extensão das licenças parentais. Outras, mais atrasadas, precisam implementar elementos básicos antes de adotar licenças estendidas, como uma cultura de não retaliação a figuras parentais”, analisa.
Segundo ele, as organizações que estão na vanguarda da maturidade parental experimentam aumento do engajamento interno, maior atração e retenção de talentos, além do aumento da representatividade feminina, especialmente em cargos de liderança, graças ao usufruto igualitário da licença entre homens e mulheres.
Carla Fava, diretora de RH, Marketing e Comunicação do Instituto Talenses Group, explica que esses resultados não apenas revelam a necessidade de uma mudança nas dinâmicas familiares, como destacam a importância de um maior compromisso das empresas com a igualdade de responsabilidades parentais. “A pesquisa demonstra que é importante que os homens assumam um papel de igualdade no cuidado dos filhos, o que é essencial para o desenvolvimento saudável das crianças. Além disso, é crucial que as empresas reconheçam e promovam a importância da licença paternidade estendida. Essa prática demonstra o compromisso da companhia com a equidade e o bem-estar dos seus colaboradores, e, como resultado, ganham em produtividade e imagem positiva”, afirma.
Para João Altman, diretor executivo de Pessoas, Marca, Cultura e ESG da VR, a licença cidadã é um compromisso com a sociedade e um dever com a família que acaba de se formar, além de reforçar a discussão sobre a equidade de papéis na criação dos filhos. “Adicionalmente, percebemos um aumento do sentimento de pertencimento e do engajamento dos colaboradores com a empresa", completa.
Ele lembra que, recentemente, a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado aprovou um projeto de lei que amplia gradualmente a licença-paternidade de cinco para até 75 dias e cria o salário-paternidade. A proposta seguiu para a Comissão de Constituição e Justiça.
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