
11/03/2025 - 19h06
Empresas precisam atuar na falta de aderência dos colaboradores às políticas de valores e cultura
Pesquisa da ABRH Brasil aponta tendências e desafios na gestão de pessoas
A ABRH Brasil (Associação Brasileira de Recursos Humanos), em parceria com a Umanni, empresa de tecnologia para gestão de desempenho e performance, apresenta os resultados da quarta edição da pesquisa O Cenário do RH no Brasil, que analisa as transformações que estão moldando o futuro do trabalho no país.
Com uma avaliação das tendências e desafios enfrentados pelos profissionais do setor, a pesquisa foi realizada no evento CONARH 2024, com uma amostra diversificada de profissionais de RH, totalizando 3.821 entrevistados.
"O material não é apenas uma compilação de dados, mas, sim, reflete histórias reais, desafios superados e conquistas que moldam o dia a dia das organizações e das pessoas que nelas atuam", afirma Eliane Aere, presidente da ABRH-SP e CEO da Umanni.
Entre os destaques do estudo, o regime de trabalho 100% presencial é a prática de 46,6% das organizações, dividindo a preferência com o modelo híbrido, preferido por 46,2% das empresas, enquanto a modalidade home office integral é adotada por apenas 7,3%.
Já o número sobre jornada reduzida mostra que essa prática ainda é somente uma intenção no Brasil. Em 2024, apenas 9,7% das empresas brasileiras adotaram a semana de quatro dias e 90,3% mantêm o modelo tradicional de cinco dias de trabalho por dois de descanso.
Apesar de pouco implementada aqui, essa tendência global é reconhecida por promover produtividade, bem-estar e atrair jovens talentos que buscam equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
CONFIANÇA NA LIDERANÇA
Utilizando escala de 1 (discordo totalmente) a 5 (concordo totalmente), 28,67% dos profissionais pesquisados consideram a liderança de suas empresas totalmente preparada para os desafios de gestão de pessoas (nota 5), um avanço em relação a 2023, quando o índice foi praticamente a metade (14,7%). A nota 3 também cresceu, passando de 36,3% em 2023 para 38,51, indicando algum progresso, mas ainda com lacunas importantes.
Apesar da melhora na percepção de preparo parcial (notas 3 e 4), muitas lideranças ainda não estão prontas para lidar com mudanças no mercado e nas expectativas dos colaboradores.
De acordo com Eliane Ramos, presidente da ABRH Brasil, hoje, liderar exige flexibilidade e equilíbrio entre resultados e cuidado com as pessoas. E a liderança ambidestra, que integra diferentes abordagens, se torna essencial nesse cenário. "O papel do líder evoluiu – não é mais sobre hierarquia, mas sobre colaboração e desenvolvimento. Lideranças eficazes promovem feedback, inovação e engajamento, entregando resultados sustentáveis”, aponta.
Além disso, prossegue ela, enfrentar desafios como a escassez de talentos e a saúde mental das equipes requer conexões genuínas, inspiração e o uso inteligente da tecnologia. “Os líderes precisam ser agentes de transformação, criando ambientes de trabalho saudáveis, colaborativos e alinhados às mudanças constantes do mundo", afirma a executiva.
POLÍTICAS INTERNAS
Para 75,6% dos profissionais de RH ouvidos, as empresas em que atuam têm políticas claras de valores e cultura organizacional. No entanto, apenas 30,5% dos colaboradores demonstram alta aderência a essas políticas, indicando uma lacuna significativa entre a criação e implementação de diretrizes e o desenvolvimento da cultura organizacional.
Embora muitas empresas estejam desenvolvendo políticas robustas de valores e cultura, a baixa aderência por parte dos colaboradores aponta para a necessidade de um trabalho mais eficaz na integração dessas políticas ao comportamento diário dos funcionários.
Investir em programas de integração, avaliação, metas, feedback regular e treinamentos de cultura organizacional pode reforçar as políticas internas e garantir que elas realmente se traduzam em comportamentos e atitudes alinhadas à cultura desejada. Empresas que conseguem implementar essas políticas de forma eficaz são mais bem-sucedidas em criar ambientes de trabalho coesos, onde os colaboradores se sentem engajados e alinhados com os valores organizacionais.
DIVERSIDADE E INCLUSÃO
A pesquisa também abordou outro tema atualmente muito presente na agenda de Recursos Humanos: Diversidade e Inclusão (D&I).
Um avanço mostrado pela pesquisa da ABRH é o crescimento de iniciativas voltadas ao desenvolvimento de lideranças em relação ao tema, que passou de 29,28% em 2023 para 34,8% em 2024.
Entretanto, as principais ações de D&I foram focadas em cumprimento de cotas, tanto para aprendizes e estagiários (46,86%) como para pessoas com deficiência (34,25%), o que indica que, apesar de contestadas, as leis de cotas trazem algum resultado pelo menos em volume de contratação.
Decepcionaram os números sobre as ações voltadas à equidade racial, que caíram de 24,61% para 19,01%, à equidade salarial, que passou de 23,38% para 19,01%, e ao equilíbrio de gênero no quadro de profissionais, com redução de 21,83% para 17,92%. Quedas que denotam a necessidade premente de as empresas reverem a atenção que vêm dispensando ao tema e a eficácia das estratégias aplicadas nessas áreas. Fica também o questionamento: depois de uma onda potente a favor das práticas de D&I, entramos em um novo momento, no qual o assunto está sendo deixado em segundo plano?
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