19/12/2023 - 11h53
Quase 80% das empresas sinalizam dificuldades em contratar profissionais qualificados
Nível de desemprego desse grupo foi de apenas 3,3% no terceiro trimestre, segundo a PNAD
A versão de fim de ano do Índice de Confiança Robert Half (ICRH), estudo trimestral que monitora o sentimento dos profissionais qualificados em relação ao mercado de trabalho e à economia, trouxe uma boa notícia: um ligeiro crescimento no indicador em relação a setembro, passando de 37,3 pontos para 38,2. Esse é o maior nível de confiança de 2023, mas ainda fora do patamar otimista. No entanto, a avaliação dos próximos seis meses diminuiu 1 ponto percentual em relação a setembro e 1,6 na comparação com dezembro de 2022. Esses dados acendem um alerta.
“Apesar da pequena melhora da confiança no cenário atual, é importante perceber que o pessimismo ainda está presente e aumenta quando pensamos no futuro. O nível de insegurança do brasileiro em relação aos dados macroeconômicos tem sido uma constante. Entretanto, mesmo diante das incertezas, é fundamental que as empresas não se acomodem, mas sim adotem medidas proativas para enfrentar os desafios, na construção de bases sólidas para o futuro”, analisa Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half para a América do Sul.
Além do resultado consolidado, o ICRH apresenta os indicadores em três categorias: profissionais empregados, desempregados e recrutadores. A situação atual melhorou apenas na perspectiva dos profissionais em busca por recolocação (+3,2 pontos percentuais), enquanto empregados e recrutadores apresentaram queda: respectivamente, -0,2 pp e -03 pp. Na visão do futuro, os índices diminuíram, influenciados por todas as categorias: desempregados (-1,4 pp), recrutadores (-1,0 pp) e empregados (-0,7 pp).
Por outro lado, segundo resultados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), o nível de desocupação dos profissionais qualificados (a partir dos 25 anos e com graduação completa) foi de 3,3% no terceiro trimestre de 2023. No comparativo com o mesmo período do ano passado, a taxa está 0,5 pp mais baixa, além de 0,2 pp menor do que a registrada no último ICRH, em setembro.
“Ao longo de 2023, observamos consecutivas quedas nas taxas de desemprego, principalmente entre os profissionais qualificados. Durante os primeiros trimestres do ano, surpresas positivas, como o crescimento econômico acima do esperado e a diminuição dos juros, contribuíram com esses números e aumentaram a demanda por trabalhadores, cada vez mais disputados”, explica Fernando.
Para efeito de comparação, no terceiro trimestre deste ano, a porcentagem de desemprego da população em geral, onde também estão incluídos os profissionais qualificados, foi de 7,7%.
DIFICULDADE EM CONTRATAR
De acordo com a Robert Half, 78% dos recrutadores sinalizaram dificuldades na contratação de profissionais qualificados. Para 67%, o cenário não deve mudar nos próximos seis meses e 25% creem que ficará ainda mais desafiador, um aumento de 5 pp na comparação com o ICRH do trimestre anterior.
Paralelamente, os desafios de retenção batem à porta: dados do Caged apontam que os desligamentos a pedido do colaborador corresponderam a 40% do total de demissões do terceiro trimestre de 2023.
Os níveis de desemprego próximos dos 3% proporcionam um maior protagonismo para os profissionais em suas relações de trabalho, o que justifica o volume considerável de demissões a pedido do próprio colaborador.
Nesse cenário, cria-se a hipótese de dois movimentos: o primeiro envolve o aumento da busca por novos desafios, e, na ótica inversa, o segundo atrela as desistências à insatisfação com o trabalho, dado que os últimos anos trouxeram à tona questões sobre saúde mental e equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
DE OLHO EM 2024
O mercado de trabalho brasileiro demonstrou resiliência ao longo de 2023, apesar dos desafios impostos. Para o próximo ano, planejamento deve ser a palavra de ordem, tanto para empresas quanto para profissionais.
“Dos profissionais, o cenário exige uma postura de constante aprimoramento. Em um mercado onde a competição por talentos é acirrada, investir em qualificação, atualização constante e habilidades diferenciadas é essencial”, destaca Fernando.
Já às empresas, ele recomenda a revisão de processos para identificação de melhorias, a definição de metas transparentes e mensuráveis, além da busca constante por uma cultura de inovação e aprendizado.
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