03/05/2024 - 00h00
O que os profissionais esperam do futuro do trabalho?
Confira o que diz estudo inédito da Futuros Possíveis, com apoio do Grupo Boticário
Trabalho remoto, inteligência artificial e geração Z. São diversos os aspectos que, nos últimos anos, vêm imputando mudanças significativas na vida profissional das pessoas. Para investigar a fundo esse tema, o Grupo Boticário apoiou o estudo inédito Futuro do Trabalho: onde estamos e para onde vamos, realizado de forma independente pela plataforma de inteligência Futuros Possíveis. Com base em respostas de mais de 2 mil pessoas de todo o Brasil, o estudo conta com insights inéditos sobre temas que vão desde o impacto da tecnologia nas carreiras e satisfação, até as preferências por modelos de trabalho.
PRESENCIAL, REMOTO OU HÍBRIDO
Apesar de ter ganhado força na pandemia, o otimismo em relação ao trabalho remoto como modelo predominante diminuiu no último ano, passando de 47% em 2023 para 38% em 2024.
"A queda na crença do trabalho remoto como o principal modelo para o futuro indica uma mudança de perspectiva entre os profissionais brasileiros. Estamos vendo uma maior valorização de outros modelos de trabalho, como o presencial e híbrido, o que reflete uma adaptação às necessidades do mercado e uma busca por equilíbrio entre flexibilidade e interação presencial", comenta Angelica Mari, CEO e cofundadora da Futuros Possíveis.
Para Daniel Knopfholz, vice-presidente de pessoas e tecnologia no Grupo Boticário, o ideal é entender que não há um modelo certo, mas perfis e atividades que melhor se adaptam a cada um deles. A empresa adotou o trabalho misto, que engloba equipes nos três modelos. Hoje, aproximadamente 46% dos colaboradores trabalham presencialmente, 35% adotaram o trabalho remoto e 19% estão em modelos híbridos.
“Eu acho que as palavras-chave aqui são flexibilidade e responsabilidade. Precisamos entender que existem vários perfis com necessidades distintas. O que nós fizemos foi permitir que os três modelos de trabalho - presencial, remoto e híbrido - coexistam, de acordo com a natureza da atividade da pessoa. É necessário também que as pessoas usem essa flexibilidade com responsabilidade, entendendo que esses modelos só existem porque as pessoas o usam bem e são comprometidas com suas atividades e resultados. Com esse movimento, conseguimos priorizar a saúde mental de nossos colaboradores, diversidade de pessoas, culturas, localizações e até formas de trabalho”, explica o executivo.
De acordo com Angelica, o desejo por uma configuração principalmente presencial ou híbrida sugere que, apesar das transformações impulsionadas pela pandemia, muitos ainda valorizam a proximidade física e as conexões pessoais no local de trabalho, porque as pessoas querem poder aproveitar as vantagens do trabalho remoto e os benefícios da colaboração olho no olho conforme as circunstâncias que o dia a dia profissional apresenta.
“Nós apostamos em ter equipes nos três formatos, mas existem vários momentos durante o ano em que garantimos que aconteçam os encontros presenciais, principalmente nos momentos de construção de novos projetos, visão de futuro e laços entre as pessoas. Além disso, sempre organizamos e incentivamos encontros presenciais espontâneos, para não perder o convívio humano entre os colegas, que definitivamente faz muita diferença”, complementa Daniel.
Entre os que preferem trabalhar presencialmente, os motivos mais citados incluem facilidade de comunicação, produtividade e interação social, além de benefícios para a saúde mental e agilidade no trabalho. Por outro lado, aqueles que optam pelo trabalho remoto são impulsionados principalmente pela economia de tempo em transporte, seguida pela melhoria da produtividade, tempo para outros projetos, mais tempo com a família e maior controle sobre o horário de trabalho. Esses fatores refletem uma busca por flexibilidade e equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
ADAPTAÇÃO NECESSÁRIA
Um dos motivos do ceticismo com o trabalho remoto se dá pela falta de estrutura das empresas. Segundo a pesquisa, metade dos profissionais acha que as empresas nem sempre estão adequadas para o trabalho remoto e 38% consideram que as empresas onde trabalham também não estão preparadas para o trabalho híbrido.
"Essa percepção sugere um desafio significativo para as organizações no que diz respeito à adaptação. Embora muitos profissionais tenham se desenvolvido para operar sob modelos alternativos de trabalho, ainda há uma lacuna a ser preenchida em termos de preparação das empresas para suportar essas mudanças", comenta Angelica.
Daniel salienta que não dá para falar de trabalho do futuro sem falar de RH do futuro. “A mudança de modelos de trabalho requer uma adaptação da gestão e processos. É preciso fornecer aos colaboradores ferramentas, condições e diretrizes para orientar da melhor forma cada modelo e como eles devem se integrar, sem impactar a atividade das pessoas” complementa.
No Boticário, a adoção de modelo misto foi baseada em pesquisas e feedback dos funcionários, e demandou processos e diretrizes muito bem estabelecidas para assegurar que os três modelos caminhassem em harmonia, com times integrados e a cultura do grupo disseminada a todos, garantindo o bem-estar e a qualidade de vida dos colaboradores.
Os processos e diretrizes deram resultados positivos. O trabalho misto é apontado por 97% dos colaboradores como um incentivo para permanecer na empresa e tem altos níveis de engajamento e satisfação, refletidos em indicadores como o Net Promoter Score (NPS).
PARA A MAIORIA, TECNOLOGIA NÃO É AMEAÇA
O estudo também revelou que (77% dos profissionais não teme perder seus empregos para robôs, mas sim para outros profissionais que dominam melhor as tecnologias.
Em contrapartida, a percepção positiva sobre o impacto da tecnologia no trabalho aumentou, com 67% dos entrevistados relatando gastar menos tempo em tarefas, um aumento significativo em relação ao ano anterior, em que o percentual era de 52%. "Essa mudança na percepção sugere uma maior aceitação e integração das tecnologias no ambiente de trabalho, possibilitando maior eficiência e produtividade", afirma a CEO da Futuros Possíveis.
“Acredito que a tecnologia vem para potencializar o trabalho humano, não o substituir. Ferramentas tecnológicas podem ajudar as pessoas a tomarem melhores decisões e a realizarem algumas tarefas de maneira mais rápida, principalmente processos mais morosos. Temos um bom exemplo aqui. Uma solução de previsão de demanda, dentro de um modelo de inteligência artificial, que analisa uma enorme quantidade de dados para dizer quantos produtos devem ser disponibilizados para cada ponto de venda. É uma análise que, se fosse delegada a um humano, não seria tão acurada e demoraria muito tempo para ser feita. Mas, no final do processo, a decisão é de uma pessoa, que avalia a recomendação determina o que será feito. Uma solução como essa libera tempo e desonera o colaborador de uma tarefa muito complicada”, exemplifica Daniel.
SATISFAÇÃO MUITO ALÉM DE UM BOM SALÁRIO
A pesquisa também buscou entender o que torna os brasileiros satisfeitos com o trabalho. Os dados apontam que para 72% um bom salário não basta para garantir a satisfação profissional. Na avaliação do trabalho atual, os entrevistados priorizaram outros fatores, como horário flexível.
"Essa tendência reflete uma mudança de mentalidade em relação ao que realmente importa na jornada profissional. Estamos testemunhando uma nova era, em que o equilíbrio entre trabalho e outros aspectos da vida se torna um objetivo central para muitos trabalhadores, causando uma necessidade de transformação urgente por parte das organizações”, acrescenta Angelica.
Entre os principais motivos que impactam a satisfação com o trabalho atual, destacam-se:
- Salário: crucial, com 37% dos respondentes afirmando ser o fator mais importante, especialmente entre pessoas entre 16 e 29 anos (42%).
- Horário flexível: essencial para 31% dos entrevistados, com destaque para a população 50+ (37%).
- Autonomia: valorizada por 27% dos profissionais, principalmente pela população 50+ (39%) e pelas classes A e B (35%).
Além disso, os benefícios também desempenham papel significativo na satisfação no trabalho. Plano de saúde (41%), vale-alimentação e vale-refeição (29%), e participação nos lucros e resultados (26%) foram apontados pelos respondentes como os benefícios mais valorizados.
GERAÇÃO Z E QUIET AMBITION
Entre as pessoas que buscam ser promovidas sem liderar times, a população entre 16 e 29 anos é a mais representativa (16%, ante 12% na faixa de 30 a 49 anos e 7% entre as pessoas com mais de 50 anos). No contingente que almeja uma carga horária reduzida, mulheres têm uma representatividade maior (22,5%) na comparação com homens (17%).
Os dados confirmam a busca por equilíbrio entre os aspectos pessoais e profissionais da vida das pessoas. “É interessante notar que, enquanto um significativo percentual almeja ganhos financeiros e melhores benefícios, poucos demonstram interesse em assumir cargos de liderança. Isso pode indicar uma preferência por uma abordagem mais equilibrada e menos estressante em relação ao trabalho", diz Angelica.
Além disso, evidencia-se uma tendência crescente em direção a novos modelos de carreira. A especialista nota que não seguem mais uma trajetória linear tradicional. Surgem outras opções de sucesso, como o foco em se tornar especialista em uma área específica, em detrimento do tradicional caminho rumo a cargos de liderança.
"A representatividade dos jovens na busca por promoções sem liderar equipes e das mulheres na busca por uma carga horária reduzida sugere uma valorização crescente de aspectos como rotas alternativas de progresso profissional e qualidade de vida no ambiente de trabalho, alimentando uma mudança de paradigma’, conclui a CEO da Futuros Possíveis.
Foto: Shutterstock