01/04/2022 - 12h14
Em contextos difíceis, líderes têm se equivocado nas decisões
Para Marcelo Cardoso, é preciso investir em gestão integral para compreender cenários e dificuldades
Líderes de empresas têm pecado com abordagens e decisões equivocadas em contextos difíceis e que não levam em conta um planejamento e uma gestão integral. A afirmação é de Marcelo Cardoso, fundador da Chie, consultoria em desenvolvimento de organizações e indivíduos.
De acordo com Marcelo, que tem mais de 25 anos de experiência, com passagens por empresas como Natura, DBM, Playcenter e Fleury, nos contextos complexos não é possível prever nada com certeza, portanto, o planejamento é menos antecipatório da realidade e mais um mapeamento de possibilidades e caminhos.
Segundo ele, é importante primeiro definir o contexto, se é complexo ou complicado. “A gestão integral considera muito relevante o entendimento correto e a relação com o contexto em que as organizações estão inseridas, uma vez que são sistema aberto em vários níveis. Ou seja, empresas são muito permeáveis às mudanças que ocorrem e, por isso, devem ser sensíveis e flexíveis. Para isso, a gestão integral utiliza o framework Cynefi, de Dave Snowden [consultor e pesquisador], para fazer uma leitura apurada de cada contexto e adotar a abordagem que melhor cabe em cada caso", explica.
Dentro desse panorama, prossegue o especialista, é possível ter um cenário Claro, Complicado, Complexo e Caótico e, de uma forma geral, para efeito de gestão, os contextos que mais se aplicam e merecem atenção são o Complicado e o Complexo.
O Complicado diz respeito a contextos que se conhece o suficiente e que no qual já existem práticas já maduras e consagradas, em que se pode reconhecer causas e efeitos de forma mais ordenada, mas que não sejam evidentes e que exigem uma investigação e uma análise. É o caso, por exemplo, de sistemas implantados em uma organização, como o de comunicação, logística ou financeiro.
"Em problemas desse tipo, vale o líder envolver um ou um grupo de especialistas no assunto, que poderão analisar e descobrir as melhores intervenções para corrigir ou implementar um sistema. A gestão em um contexto complicado deve "sentir" o ambiente, "analisar" o problema e "responder" com a melhor intervenção em cada caso", enumera.
Marcelo esclarece, porém, que o domínio do Complexo, por sua vez, diz respeito a contextos em que muitos fatores se influenciam mutuamente e não permitem que se encontre uma relação imediata de causa e efeito, apenas por retrospectiva. Assim, as circunstâncias são emergentes e não conhecidas. São o caso dos sistemas sociais e econômicos, da cultura e comportamentos humanos que impactam nas organizações de inúmeras formas.
"Em problemas desse tipo é importante que muitas cabeças diferentes e curiosas se somem em investigações que reconheçam a complexidade. Não há espaço para certezas e para decisões apressadas e definitivas. A gestão nesse tipo de contexto deve adotar pequenas intervenções para 'sondar' o impacto com diversas opções –que devem ser seguras para falhar sem gerar consequências sérias e incontornáveis –, 'sentir' esse impacto e 'responder' a partir do aprendizado, encerrando, modificando ou ampliando iniciativas conforme cada caso", avalia.
É essencial, prossegue ele, que a liderança esteja preparada de muitas formas para lidar com os diferentes contextos, sobretudo desenvolver maturidade emocional para não reagir de forma impulsiva diante dos desafios e relaxar na fluidez que os sistemas complexos demandam. "As piores decisões que podem ser tomadas são aquelas que confundem o Complexo com o Complicado ou com o Claro, gerando consequências sérias para a organização, muitas vezes sem ter a noção exata sobre os próprios erros de avaliação", conclui.
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