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Publieditorial

12/03/2025 - 14h32

O impacto da IA nas organizações e as Habilidades do Gestor para o Futuro

Muitas empresas estão revendo seus programas de liderança, diz professor da FGV

 

Em um cenário marcado por inovações tecnológicas, a Inteligência Artificial (IA) está transformando a forma como as empresas operam seus produtos e serviços. Os processos digitais mais rápidos e automatizados impactaram a rotina dos profissionais, o que significa um alerta para os gestores, que precisam modificar a forma de comunicar e trabalhar com suas equipes.

 

Além da necessidade de aperfeiçoamento para análise e interpretação de dados, os gestores, que antes eram mais focados em processos e resultados, agora precisam desenvolver novas habilidades. O impacto da inteligência artificial na gestão tem gerado desafios significativos, especialmente em setores como manufatura, serviços financeiros e tecnologia, onde a automação está avançando rapidamente. No Fórum Econômico Mundial (WEF) 2025, realizado em Davos (Suiça), um dos principais pontos de debate foi a necessidade de requalificação de profissionais nessas áreas, com destaque para países emergentes, onde a adaptação às novas competências ocorre de forma desigual.

 

Segundo o relatório “O Futuro dos Empregos”, produzido pelo Fórum, a lacuna de habilidades continua sendo o obstáculo mais significativo para a transformação dos negócios. Para se ter um exemplo, se a força de trabalho global fosse representada por um grupo de 100 pessoas, estima-se que 59 precisariam de requalificação (reskilling) ou aprimoramento das habilidades (upskilling) até 2030.

 

Apesar da demanda por habilidades tecnológicas em IA, análise de dados e segurança cibernética, as habilidades humanas como pensamento analítico, resiliência, liderança e colaboração, continuam sendo essenciais. A tendência é que as empresas exijam uma combinação de habilidades digitais e humanas, com um perfil de profissional capaz de navegar no mundo da tecnologia sem perder sua humanidade.

 

De acordo com especialistas, a combinação de competências técnicas e humanas é um diferencial competitivo no mercado. "Estamos vivendo uma transformação profunda e a inteligência artificial oferece muitas oportunidades, mas também demanda novas competências dos gestores", afirma Anderson Sant’Anna, coordenador acadêmico e professor do curso de Formação Executiva de Líderes da FGV.

 

Segundo Anderson, muitas áreas que requerem competências técnicas especializadas estão passando por um processo de automatização. Já as habilidades comportamentais chamadas de “soft skills” como adaptabilidade, flexibilidade, resolução de problemas e pensamento criativo e colaborativo serão cada vez mais solicitadas. “As ocupações estão mudando e a forma de gerenciar as equipes também precisa mudar”, comenta.

 

De acordo com o professor, empresas de diferentes setores já estão implementando estratégias para alinhar a gestão às novas demandas da era da inteligência artificial. Um exemplo é a reformulação de programas de desenvolvimento de liderança, com maior ênfase em competências interpessoais e adaptabilidade. Em organizações de tecnologia, por exemplo, gestores de equipes de engenharia passam a atuar menos como supervisores e mais como facilitadores de aprendizado contínuo, assegurando que a IA seja utilizada de maneira estratégica, sem comprometer a colaboração humana como diferencial competitivo.

 

No setor financeiro, instituições bancárias vêm adotando modelos híbridos de liderança, nos quais a inteligência artificial é empregada para otimizar processos analíticos e apoiar a tomada de decisões, ao mesmo tempo que se investe em programas de desenvolvimento voltados ao fortalecimento das habilidades emocionais dos gestores. Essas empresas reconhecem que, apesar do avanço da automação, a capacidade de inspirar, comunicar e criar um ambiente de confiança permanece essencial para a efetividade e sustentabilidade organizacional.

 

Outros casos, indicados pelo professor, referem-se a empresas do setor industrial que buscam redefinir seus estilos de liderança para um modelo de “gestão ágil”. Nesse formato, os líderes são incentivados a tomar decisões baseadas em dados gerados por IA, mas sempre com um olhar crítico e humano. Essas empresas têm investido crescentemente em treinamentos voltados à inteligência emocional e ao pensamento estratégico, assegurando que seus gestores sejam capazes de interpretar insights automatizados sem perder a capacidade de inovação e engajamento das equipes.

 

Esses exemplos demonstram que, mais do que dominar a tecnologia, o gestor do futuro precisará equilibrar habilidades técnicas e humanas para se manter relevante em um mercado em constante transformação.

 

O desafio, segundo Anderson, será criar uma ambiência organizacional que incentive os profissionais a adotarem novas práticas. “Muitos gestores foram treinados para atingir metas e controlar processos. O novo gestor precisa ter a capacidade de engajar os profissionais, em ambientes que valorizem a criação e a inovação, porque o resto a Inteligência Artificial fará”, explica.       

 

Além disso, o professor ressalta que para se adaptar a essa nova realidade o líder precisa focar em três competências essenciais: saber se relacionar, comunicar e socializar. “Os gestores precisam estimular o surgimento novas ideias e alternativas. Nesse cenário, a liderança será cada vez mais relacional, e a estratégia deverá estar alinhada aos instrumentos de gestão. Não existe um modelo ideal, mas o gestor deve buscar o máximo de coerência para potencializar o desempenho de suas equipes”, finaliza Anderson.